ACIDENTES AMBIENTAIS: CONCEITOS BÁSICOS

Edson Haddad

 

Introdução | Identificação e avaliação de riscos| Planejamento de um sistema para atendimento a acidentes ambientais de origem tecnológica | Considerações gerais | Anexo 1 | Anexo 2 | Bibliografia

 

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1. Introdução

Os Acidentes Ambientais podem ser definidos como sendo eventos inesperados que afetam, direta ou indiretamente, a segurança e a saúde da comunidade envolvida, causando impactos ao meio ambiente como um todo.

Os Acidentes Ambientais podem ser caracterizados de duas formas distintas:

a. Desastres Naturais:

Ocorrências causadas por fenômenos da natureza, cuja maioria dos casos independe das intervenções do homem. Incluem-se nesta categoria os terremotos, os maremotos, os furacões, etc.

b. Desastres Tecnológicos:

Ocorrências geradas pelas atividades desenvolvidas pelo homem, tais como os acidentes nucleares, vazamentos durante a manipulação de substâncias químicas, etc.

Embora estes dois tipos de ocorrências sejam independentes quanto às suas origens (causas), em determinadas situações pode haver uma certa relação entre as mesmas, como por exemplo uma forte tormenta que acarrete danos numa instalação industrial. Neste caso, além dos danos diretos causados pelo fenômeno natural, pode-se ter outras implicações decorrentes dos impactos causados nas instalações da empresa atingida.

Da mesma forma, as intervenções do homem na natureza podem contribuir para a ocorrência dos acidentes naturais, como por exemplo o uso e ocupação do solo de forma desordenada pode vir a acelerar processos de deslizamentos de terra.

No entanto, os acidentes naturais, em sua grande maioria são de difícil prevenção, razão pela qual diversos países do mundo, principalmente aqueles onde tais fenômenos são mais constantes, têm investido em sistemas para o atendimento à estas situações.

Já, no caso dos acidentes de origem tecnológica, podemos dizer que a grande maioria dos casos é previsível, razão pela qual há que se trabalhar principalmente na prevenção destes episódios, sem esquecer obviamente da preparação e intervenção quando da ocorrência dos mesmos.

Assim, pode-se observar que para os acidentes de origem tecnológica, aplica-se perfeitamente o conceito básico de gerenciamento de riscos, ou seja, um risco pode ser diminuído atuando-se tanto na "probabilidade" da ocorrência de um evento indesejado, como nas "conseqüências" geradas por este evento.

Entre os diversos tipos de acidentes, pode ser destacado como de especial interesse o acidente químico, que pode ser definido como um acontecimento ou situação que resulta da liberação de uma ou várias substâncias perigosas para a saúde humana e/ou o meio ambiente, a curto ou longo prazo.

As conseqüências dos acidentes químicos estão associadas a diferentes tipos de impactos no meio ambiente, as pessoas ou o património (público e privado). Desta forma, a seguir, resumem-se os danos causados por eventos:

  • Perda de vidas humanas
  • Impactos ambientais
  • Danos à saúde humana
  • Danos económicos
  • Efeitos psicológicos na população
  • Compromisso da imagem na indústria e o governo

Na década de 80, a preocupação com os acidentes industriais ganhou grande ênfase, no tocante à prevenção destas ocorrências, principalmente após os casos de Chernobyl, Cidade do México e Bhopal, quando diferentes programas passaram a ser desenvolvidos, contemplando não só os aspectos preventivos, mas também os de intervenção nas emergências. Dentre estes programas pode-se destacar The Emergency Planning and Community Right-to-Know Act; CAER-Community Awareness and Emergency Response; APELL - Awareness and Preparedness for Emergency at Local Level e International Metropolis Committee or Major Hazards, entre outros.

No transcorrer deste trabalho serão apresentadas algumas linhas básicas para a identificação e avaliação de riscos e para prevenção de acidentes ambientais de origem tecnológica, bem como para a adoção de medidas, rápidas e eficientes, quando da ocorrência destes episódios.

2. Identificação e avaliação de riscos

O primeiro passo, tanto para a prevenção, como para uma intervenção eficiente, deve ser a identificação e avaliação dos riscos a que uma região está exposta, de modo que ações possam ser desenvolvidas para a redução destes riscos, seu gerenciamento e planejamento de intervenções emergenciais.

No caso dos acidentes tecnológicos envolvendo substâncias perigosas deve-se desenvolver os trabalhos seguindo a sequência abaixo, a qual obviamente pode ser adaptada às condições específicas de uma determinada região:

a. Levantamento estatístico de acidentes com substâncias perigosas na região em estudo;

b. Levantamento das atividades que manipulam substâncias perigosa

  • indústria;
  • comércio;
  • terminais; e
  • sistemas de transportes: rodoviário, ferroviário, marítimo, fluvial e por dutos.

c. Caracterização das substâncias e respectivas quantidades;

d.Identificação dos riscos e das possíveis conseqüências causadas por eventuais acidentes envolvendo as atividades e produtos identificados;

e. Implantação de medidas para a redução dos acidentes e gereciamento de riscos.

Estas atividades, além de propiciarem resultados do ponto de vista preventivo (redução e gerenciamento dos riscos), fornecerá informações de fundamental importância para o planejamento de um sistema para atendimentos aos acidentes tecnológicos na região em estudo (Figura 1). 


Figura 1 - Atividades Preventivas Iniciais para a Elaboração de um Sistema para Atendimento a Acidentes Ambientais

Dependendo da região a ser estudada, esta etapa pode ser bastante demorada e complexa, razão pela qual é importante a criação de um Grupo de Trabalho, envolvendo todos os segmentos da sociedade envolvidos com o assunto, de forma que os trabalhos possam ser agilizados e contemplem, de forma detalhada, os itens anteriormente mencionados.

3. Planejamento de um sistema para atendimento a acidentes ambientais de origem tecnológica

Da mesma forma que na etapa anterior, o planejamento de um sistema para atendimento a acidentes deve ser desenvolvido por grupo de trabalho multi-disciplinar que contemple os diversos segmentos da sociedade envolvidos com o assunto, razão pela qual o grupo deve contar com especialistas das diferentes áreas envolvidas.

Antes do início dos trabalhos para a elaboração de um sistema para o atendimento aos acidentes deverão ser identificados os diferentes sistemas de emergência existentes na região, ou seja:

  • Corpo de Bombeiros;

  • Polícia;

  • Assistência médica; etc.

O sistema de emergência a ser elaborado e implantado deve contemplar as peculiaridades da região e dos órgãos participantes; assim, deve-se procurar aproveitar ao máximo as estruturas já existentes, adaptando-se quando necessário.

O sistema para atendimento a acidentes deve contemplar os seguintes aspectos:

a. Recursos Humanos

Especialistas nas diferentes áreas envolvidas (defesa civil, médicos, meio ambiente, etc) e disponibilidade de materiais e equipamentos em quantidades suficientes para atender aos possíveis acidentes previamente estudados.

b. Sistema de Comunicação

Definido o sistema para acionamento dos órgãos, de acordo com o tipo e porte do acidente, deve-se implantar, ou mesmo adaptar os sistemas existentes, de modo que, quando do acionamento, também durante o atendimento aos acidentes, possam ser estabelecidas as comunicações necessárias de forma rápida e com a confiabilidade necessária.

O sistema de comunicação deve contemplar telefones (linhas discadas e privadas), rádios e fac-símiles, entre outros.

c.Rotinas Operacionais

Para cada um dos possíveis acidentes estudados deverão ser definidas rotinas de procedimentos para o combate aos sinistros prevendo sempre a organização hierárquica durante a emergência, bem como as funções a serem desempenhadas pelos diferentes órgãos participantes e os recursos a serem mobilizados.

d. Treinamentos

A implantação do sistema de atendimento deverá ser precedida por treinamentos de diferentes tipos e em diversos níveis, dentre os quais pode-se destacar:

  • treinamento de coordenadores;

  • treinamento dos participantes;

  • treinamento de jornalistas;

  • treinamento da comunidade.

e. Manutenção do Sistema

Periodicamente o sistema deverá ser reavaliado, atualizado e aperfeiçoado, com base nas experiências vividas, de forma que o mesmo mantenha o nível desejado do ponto de vista de eficiência ao longo do tempo. Da mesma forma, é importante lembrar que a realização de treinamentos periódicos contribui de forma significativa para a manutenção de um sistema eficiente, razão pela qual deve-se prever programas periódicos para a realização destes eventos.

4. Considerações gerais

Não se pode ignorar a possibilidade da ocorrência de acidentes ambientais envolvendo produtos químicos. No entanto, deve-se procurar reduzir ao máximo possível a probabilidade de ocorrência destes episódios, procurando portanto desenvolver ações preventivas adequadas.

Da mesma forma, é necessário o desencadeamento de ações corretivas eficazes para a redução dos impactos causados ao meio ambiente, quando da ocorrência dos acidentes.

Com base no anteriormente exposto, pode-se dizer que o gerenciamento de acidentes ambientais passa por duas etapas distintas, para cada qual cabem ações diferenciadas, conforme mostrado no quadro da Figura 2.

P
R
E
V
E
N
Ç
Ã

O

IDENTIFICAÇÃO DE PERIGOS

AVALIAÇÃO DOS RISCOS E DE SUAS CONSEQÜÊNCIAS

REDUÇÃO DOS RISCOS

PLANO DE EMERGÊNCIA

TREINAMENTO E CAPACITAÇÃO

 

I
N
T
E
R
V
E
N
Ç
Ã
O

AVALIAÇÃO DO ACIDENTE

ACIONAMENTO

MOBILIZAÇÃO

ASSISTÊNCIA EMERGENCIAL

RECUPERAÇÃO

A prevenção de acidentes ambientais, bem como a minimização dos seus impactos, só poderá ser realizada de forma eficaz através da elaboração de um sistema adequado, que deverá ser permanentemente atualizado e aperfeiçoado, tendo sempre como objetivos:

a. Preservar a vida humana;

b. Evitar impactos significativos ao meio ambiente;

c. Evitar ou minimizar as perdas materiais.

Nas situações emergenciais deve-se procurar agir de forma coordenada com a participação de todos os envolvidos, razão pela qual o estabelecimento de planos específicos, associados a treinamentos regulares, são importantes para o sucesso destas operações.

As seguintes entidades são as que geralmente atuam nas emergências químicas:

  • Defesa civil
  • Ministério/Secretaria da Saúde
  • Instituições relacionadas com o ambiente
  • Polícia militar
  • Corpo dos bombeiros
  • Indústrias
  • Representantes da comunidade

Essa forma de ação integrada normalmente contempla a coordenação por parte da Defesa Civil, à qual compete-lhe atuar como órgão facilitador para a movilização dos recursos de materiais e especialistas, deste modo, a resposta à situação de emergência poderá ser rápida e eficaz, diminuindo assim os impactos resultantes do acidente.

Anexo 1. Principais Acidentes Ambientais no Brasil

Data

Local

Atividade

Produto

Causa

Consequências

21/9/72

Rio de Janeiro

Estocagem

GLP

BLEVE

37 mortes, 53 feridos

26/3/75

Rio de Janeiro

Navio

Petróleo

Colisão

Vazamento de 6.000 ton.

9/1/78

São Sebastião

Navio

Petróleo

Colisão

Vazamento de 6.000 ton.

31/5/83

Porto Feliz

Estocagem

Resíduos clorados

Colisão de veículo

Vazamento de 500 ton.

Contaminação de rio/poços

14/10/83

Bertioga

Duto

Petróleo

Queda de rocha no duto

Vazamento de 2.500 ton.

Impactos em manguezal

25/02/84

Cubatão

Duto

Gasolina

Corrosão

Erro humano

Vazamento de 1200 m3

Incêndio - 93 mortes

25/5/84

São Paulo

Duto

Nafta

Rompimento

Vazamento de 200 m3

2 mortes

25/1/85

Cubatão

Duto

Amônia

Rompimento

Evacuação de 6.500 pessoas

18/3/85

São Sebatião

Navio

Petróleo

Colisão

Vazamento de 2.500 ton.

Contaminação de praias/ilhas

10/10/91

Santos

Estocagem

Acrilonitrila

Explosão

Incêndio

Poluição do ar e do mar

25/2/92

Cubatão

Indústria

Cloro

Vazamento

300 kg

37 intoxicados

3/9/98

Santos

Armazenamento

DCPD

Explosão

Incêndio

Contaminação/Fogo no

Estuário de Santos

8/9/98

Araras

Caminhão tanque

Gasolina/

Óleo diesel

Explosão

Incêndio

55 mortes

Anexo 2.  Principais Acidentes Ambientais no   Mundo

Data

Local

Atividade

Produto

Causa

Consequências

16/4/47

Texas City, USA

Navio

Nitrato de Amônio

Explosão

552 mortes

3000 feridos

4/1/66

Feyzin, França

Estocagem

Propano

BLEVE

18 mortes, 81 feridos

Perdas de US$ 68 milhões

13/7/73

Potchefstroom, África do Sul

Estocagem

Amônia

Vazamento

18 mortes

65 intoxicados

1/6/74

Flixborough, UK

Planta de Caprolactama

Ciclohexano

Explosão

Incêndio

28 mortes, 104 feridos

Perdas de US$ 412 milhões

10/7/76

Seveso, Itália

Planta de processo

TCDD

Explosão

Contaminação de grande área, devido a emissão de dioxina

6/3/78

Portsall, UK

Navio

Petróleo

Encalhe

230.000 ton.

Perdas de US$ 85,2 milhões

11/7/78

San Carlos, Espanha

Caminhão-tanque

Propeno

VCE

216 mortes, 200 feridos

19/11/84

Mexico City

Estocagem

GLP

BLEVE

Incêndio

650 mortes, 6400 feridos

Perdas de US$ 22,5 milhões

3/12/84

Bhopal, Índia

Estocagem

Isocianato de metila

Emissão tóxica

4000 mortes

200000 intoxicados

28/4/86

Chernobyl, Rússia

Usina nuclear

Urânio

Explosão

135.000 pessoas evacuadas

3/6/89

Ufa, Rússia

Duto

GLN

VCE

645 mortes

500 feridos

24/3/89

Alasca, USA

Navio

Petróleo

Encalhe

40.000 ton.

100.000 aves

11/3/91

Catzacoala

Planta de processo

Cloro

Vazamento

Explosão

Perdas de

US$ 150 milhões

22/4/91

Guadalajara, México

Duto

Gasolina

Explosão

300 mortes

15/2/96

Mill Bay, UK

Navio

Petróleo

Falha operacional

70.000 ton.

2300 pássaros mortos

5. Bibliografia consultada

  • ROSSIN, Antonio C. Prevenção de Acidentes Ambientais, CETESB, São Paulo, 1986.

  • OPS. Manual sobre Preparacion de Los Servicios de Agua Potable y Alcantarillado para Afrontar Situaciones de Emergencia, 1990.

  • METROPOLIS. Metropolis International Major Hazard Committee World Association of the Major Metropolises, Paris, 1988.

  • UNEP. Awareness and Preparedness for Emergencies at Local Level (APELL), Paris, 1988.
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