ESTUDO DE ANÁLISE DE RISCOS EM INSTALAÇÕES COM PRODUTOS PERIGOSOS José Carlos de Moura Xavier & Ricardo Rodrigues Serpa
Introdução | Conceitos básicos | Desenvolvimento de estudos de análise de riscos
| Considerações
gerais | Bibliografia
1. Introdução A evolução da indústria química no mundo, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial é muito importante para o desenvolvimento econômico e para a vida moderna, já que diariamente utilizam-se diversos tipos de produtos e materiais, nos quais estão presentes grande variedade de substâncias químicas. A grande diversidade de produtos no mercado, bem como a existência de processos cada vez mais complexos, e a armazenagem e transporte das substâncias químicas, faz com que o organismo humano esteja exposto a uma série de substâncias químicas que podem representar um risco para a saúde. Através do tempo, especialmente as indústrias química e petroquímica, no seu avanço tecnológico, e tendo o objetivo de cuidar dos interesses, evitou discutir os problemas ligados às suas atividades, como por exemplo as doenças ocupacionais, os assuntos de segurança industrial e os problemas ambientais. Os casos de algumas catástrofes que afetaram o ambiente, principalmente nas décadas de setenta e oitenta, como aquelas que aconteceram em Flixborough (1974), Seveso (1976) e Bhopal (1984), contribuíram para que as indústrias do mundo todo procurassem mecanismos para melhorar a imagem perante a comunidade mundial. Neste contexto os estudos de análise de riscos (EAR) e os programas de gerenciamento de riscos (PGR) converteram-se em ferramentas de grande importância para a prevenção de acidentes industriais que poderiam afetar o ambiente e em outras atividades nas quais eram manipuladas substâncias perigosas. Os estudos propiciaram os subsídios necessários para o conhecimento detalhado das falhas que poderiam conduzir a um acidente, bem como suas conseqüências, possibilitando a implantação de medidas para a redução de riscos e a elaboração de planos de emergência para a resposta aos acidentes. 2. Conceitos básicos Um estudo de análise de riscos deve ter como objetivo principal responder às seguintes perguntas:
Para entender melhor o assunto "Análise de riscos" faz-se necessária a introdução de alguns conceitos básicos. Perigo Uma ou mais condições físicas ou químicas com possibilidade de causar danos às pessoas, à propriedade, ao ambiente ou uma combinação de todos. Risco Medida da perda econômica e/ou de danos para a vida humana, resultante da combinação entre a freqüência da ocorrência e a magnitude das perdas ou danos (conseqüências). O risco está sempre ligado à factibilidade da ocorrência de um evento não desejado, sendo função da freqüência da ocorrência das hipóteses acidentais e das suas conseqüências. Desta maneira, o risco pode ser expressado como uma função desses fatores, segundo o apresentado na equação 1. R = f (c, f, C) (1) Sendo: R = risco; c = cenário acidental f = freqüência de ocorrência C = conseqüência (perdas e/ou danos). O risco também pode ser definido através das seguintes expressões:
A experiência demonstra que geralmente os grandes acidentes são causados por eventos pouco freqüentes, mas que causam danos importantes.
É a atividade dirigida à elaboração de uma estimativa (qualitativa ou quantitativa) dos riscos, baseada na engenharia de avaliação e técnicas estruturadas para promover a combinação das freqüências e conseqüências de cenários acidentais.
É o processo que utiliza os resultados da análise de riscos e os compara com os critérios de tolerabilidade previamente estabelecidos.
É a formulação e a execução de medidas e procedimentos técnicos e administrativos que têm o objetivo de prever, controlar ou reduzir os riscos existentes na instalação industrial, objetivando mantê-la operando dentro dos requerimentos de segurança considerados toleráveis. 3. Desenvolvimento de estudos de análise de riscos Geralmente um estudo de análise de riscos pode ser dividido nas seguintes etapas: 3.1 Caracterização da empresa A caracterização da empresa e da região tem as seguintes finalidades:
Espera-se os seguintes resultados práticos:
Assim, essa etapa inicial do trabalho deve contemplar os seguintes aspectos:
Observação Quando se trata de um empreendimento, por exemplo, um sistema de transporte de produtos químicos por dutos, deverá ser feita uma análise detalhada do local, com a identificação e caracterização das diferentes áreas sob influência da empresa. 3.1.1 Aspectos fisiográficos
3.1.2 Características meteorológicas
3.1.3 Características das instalações
3.2 Identificação de perigos Esta etapa tem o objetivo de identificar os possíveis eventos não desejados que possam levar a acidentes, possibilitando definir hipóteses acidentais que poderão produzir conseqüências significativas. Portanto, técnicas específicas para a identificação dos perigos devem ser empregadas, entre as quais podemos mencionar:
A tabela 1 apresenta algumas das principais aplicações dessas técnicas. Tabela 1 Técnicas para a identificação de perigos e as principais aplicações
3.3 Estimativa de conseqüências e de vulnerabilidade Tendo por base as hipóteses acidentais formuladas na etapa anterior, estuda-se as suas possíveis conseqüências, medindo os impactos e danos causados por elas. Deverão ser utilizados modelos de cálculos que representem os possíveis efeitos resultantes dos tipos de acidentes, como:
Em seguida deverão ser estimadas as possíveis conseqüências dos cenários produzidos pelas hipóteses de acidentes. Os resultados desta estimativa deverão servir de base para a análise de vulnerabilidade nas instalações estudadas. Normalmente essa análise é feita considerando danos às pessoas expostas a esses impactos. 3.4 Estimativa de freqüências Para fazer estudos quantitativos de análise de riscos é necessária a estimativa das freqüências das hipóteses acidentais decorrentes das falhas nos equipamentos ligados às instalações ou atividades da análise. Da mesma maneira, a estimativa de probabilidade de erros do homem deve ser quantificada nesta etapa. Esses dados normalmente são difíceis de serem estimados já que há poucos estudos abordando confiabilidade humana. As seguintes técnicas podem ser utilizadas para o cálculo das freqüências dos cenários de acidentes,:
Em determinados estudos, os fatores externos da empresa podem contribuir para o risco de uma instalação. Nesses casos, também deve ser considerada a probabilidade ou a freqüência do acontecimento de eventos não desejáveis causados por terceiros ou por agentes externos ao sistema em estudo, como terremotos, enchentes, deslizamentos de solos e queda de aeronaves entre outros. Tabela 2 Bancos de dados de acidentes
Diversas instituições mantêm bancos de dados ou publicações relativas à confiabilidade de equipamentos para instalações perigosas. A seguir serão apresentadas algumas referências:
Quanto ao tema "confiabilidade humana", os dados de falhas devem ser utilizados com muito cuidado porque existem muitos fatores que interferem nas taxas de falhas, tais como:
Um fator que deve ser considerado na análise é o erro humano durante a realização de uma determinada operação, principalmente erros de manutenção, devido aos quais acontecem cerca de 60% a 80% dos acidentes maiores em que o erro humano está envolvido (AICHE, 1989). 3.5 Estimativa de riscos A estimação de riscos é feita através da combinação das freqüências de ocorrência das hipóteses de acidentes e as suas respectivas conseqüências. Pode-se expressar o risco de diferentes formas segundo o objetivo do estudo em questão. Geralmente os riscos são expressos da seguinte maneira:
3.6 Avaliação e gerenciamento de riscos Nesta etapa os riscos estimados deverão ser avaliados, de maneira a definir medidas e procedimentos que serão executados com o objetivo de reduzi-los ou gerenciá-los, tendo-se por base critérios de aceitabilidade de riscos previamente definidos. O fluxograma da figura 1 mostra os resultados das etapas que compõem um estudo de análise de riscos. 4. Considerações gerais A utilização de técnicas e de métodos específicos para a análise de riscos ocupam cada vez mais o espaço nos programas sobre segurança e gerenciamento ambiental das indústrias, como evidência da preocupação destas, dos governos e de toda a sociedade com respeito aos temas relacionados com o meio ambiente. Além disso, deve-se esclarecer que essas técnicas podem ser amplamente empregadas para lidar com outros tipos de riscos, como os riscos de mercado, de imagem, financeiros, de produção e até políticos. Os estudos de análise de riscos, que podem ser feitos com diferentes finalidades, devem ser considerados como instrumentos importantes de gerenciamento e planejamento. Provalvemente, sem eles, muitas empresas não saberiam a importância dos problemas resultantes de acidentes e deste modo também não saberiam enfrentar riscos muito altos que poderiam provocar danos algumas vezes irreparáveis para a comunidade ou o meio ambiente e prejudicar a imagem e sobrevivência de maneira significativa e irreversível. Desta maneira, é necessário dar ao tema a adequada importância e fazer estudos e programas específicos que contemplem adequadamente o gerenciamento dos riscos existentes decorrentes do desenvolvimento de atividades perigosas.
5. Bibliografia
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