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INFORMAÇÃO NAS EMERGÊNCIAS QUÍMICAS
Diego González Machín
Introdução | Que requisitos deve ter a informação para a prevenção, preparação e
resposta a um acidente químico? | Quem são os principais usuários? | Quem dá a informação? | Que recursos de informação
existem, quais estão disponíveis e para que tipo de usuário? | Conclusão
1.
Introdução
Quando analisamos retrospectivamente os eventos que envolvem
substâncias químicas observamos as causas, as falhas nas ações de resposta e as suas
conseqüências na saúde humana ou no ambiente. Um bom planejamento e a preparação dos
diferentes setores envolvidos no atendimento a esses episódios, contribuem na prevenção
da ocorrência e na redução dos efeitos dos acidentes envolvendo substâncias químicas.
Esse bom planejamento e preparação deve se basear em informação
confiável, atualizada e acessível. A informação é fundamental nas atividades
relacionadas a um acidente, sejam de prevenção, preparação ou resposta. Agora
tentaremos responder as seguintes perguntas: Que requisitos deve ter a informação? Quem
são os principais usuários? Qual é a natureza da informação que é necessária e com
que objetivo? Quais são as fontes para obter a informação?
2. Que requisitos deve
ter a informação para a prevenção, preparação e resposta a um acidente químico?
-
Deve ser atualizada. Em dois sentidos:
- Com respeito à fonte, esta deve estar enriquecida com as últimas experiências
ocorridas.
- Com respeito ao relatório das atividades realizadas antes, durante e depois da
ocorrência de um acidente.
-
Deve ser seletiva. A disseminação da informação deve considerar
o tipo do receptor ao qual está dirigida e o nível de ação.
- Deve estar disponível para todos.
- Deve ser clara, concisa e fácil de entender.
-
Deve ser oportuna. A informação deve ser fornecida no momento em
que é necessária. Deve-se ter em conta que os acidentes não avisam, por isso deve ser
possível ter acesso à informação as 24 horas do dia e os 365 dias do ano.
- Deve ser preparada e fornecida por equipes especializadas.
3. Quem são os
principais usuários?
- As pessoas envolvidas na organização e planejamento da resposta.
- Os primeiros que chegam ao local do acidente: bombeiros, policiais, Cruz Vermelha,
paramédicos, técnicos da indústria e outros.
- Setor de saúde em todos os níveis da corrente de tratamento (o pessoal da
"triagem", hospitais e outras instalações adaptadas, cuidados intensivos,
etc.).
- Entidades de proteção ao meio ambiente.
- Público em geral (população potencialmente afetada).
4. Quem dá a informação?
As fontes principais de informação antes e durante um acidente
químico são:
-
A indústria
Fornece informação ligada às atividades, processos e pontos
perigosos, bem como à quantidade e à natureza dos produtos químicos que manipula,
processa e transporta.
-
Os centros especializados de informação
São centros que recolhem, processam e disseminam informação
relacionada aos produtos químicos. O ideal seria que os países tivessem duas
modalidades: os centros de resposta química e os centros de informação toxicológica.
Em países com maior desenvolvimento industrial e portanto mais vulneráveis à
ocorrência de acidentes, seria benéfico ter uma rede destes centros, que funcionassem as
24 horas do dia e os 365 dias do ano. Além disso, devem estar interligados a nível
nacional e manter comunicação com centros e organizações internacionais. Estes centros
devem ter pessoal capacitado para fornecer a informação contida em suas base de dados e
publicações, e também para a interpretação e adaptação da informação às
diferentes circunstâncias que podem apresentar-se em um acidente químico.
-
Os organismos internacionais
Várias organizações internacionais, como o IPCS/OMS (Programa
Internacional de Segurança Química), PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente), EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos), ATSDR (Agência para
as Substâncias Tóxicas e o Registro de Doenças), OCDE (Organização de Cooperação e
Desenvolvimento Econômicos) e o OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) preparam e
disseminam informação relacionada aos produtos químicos que pode ser utilizada a nível
nacional pelos organismos reguladores e pelo setor saúde.
5. Que recursos de
informação existem, quais estão disponíveis e para que tipo de usuário?
São múltiplos os recursos informativos que podem ser utilizados
nas atividades de prevenção, preparação e resposta às emergências que envolvem
substâncias químicas. Em seguida são descritos alguns das mais recomendados fontes de
informação segundo o tipo de usuário. Diferentes tipos de ajuda à informação têm
sido considerados: textos impressos e bases de dados em disco laser ou acessíveis a
través de Internet.
5. 1 Informação para os responsáveis de tomar as decisões: autoridades públicas
O tipo de informação que é necessária se encontra em guias e
diretrizes que orientam sobre como organizar as ações de prevenção, preparação e
resposta aos acidentes químicos. Além disso, é preciso utilizar recursos que permitam:
- Realizar inventário de instalações perigosas: localização, atividades, processos e
pontos perigosos, tipos e quantidades de produtos químicos que estão sendo processados,
armazenados, manipulados e transportados.
- Classificar os tipos de acidentes que poderiam ocorrer em uma determinada região.
- Identificar a população potencialmente afetada.
- Informar sobre as instalações médicas disponíveis.
- Localização de hospitais e outras instalações médicas (dispensários, policlínicas
ou outros centros de assistência à saúde).
- Recursos disponíveis em instalações médicas: leitos disponíveis, equipamento
médico, medicamentos e antídotos, etc.
- Principais meios de transporte de vítimas (ambulâncias, helicópteros, transporte
adaptado, etc.) e vias de evacuação.
- Disponibilidade de laboratórios para investigações clínicas e toxicológicas.
Para responder a esta demanda de informação várias fontes podem ser
utilizadas:
- PNUMA; OIT; OMS. Programa Internacional de Seguridad sobre Sustancias Químicas (PISSQ),
Accidentes químicos: aspectos relativos a la salud. Guía para a preparación y
respuesta. Washington, DC: OPAS; 1998, 140p.
- OECD. Guidance concerning health aspects of chemical accidents. Paris: OCDE; 1996. 62 p.
- OECD. Guidance principles for chemical accident prevention preparedness and response.
Environment Monograph Nº 51, Paris: OECD; 1992. 123 p.
- PNUMA. Un proceso para responder a los accidentes tecnológicos. Paris: PNUMA; 1989. 70
p.
Na Internet encontram-se as seguintes fontes:
Este centro gera muita informação ligada aos
desastres naturais e tecnológicos de utilidade para aqueles que tomam decisões; tem uma
Biblioteca Virtual de Desastres.
Neste site se encontra o texto completo das
monografías da OCDE relacionadas a esta temática. Estas são:
- OECD. Environment Monograph. Nº 24. Accidents involving hazardous substances.
- OECD. Environment Monograph. Nº 28. Prevention of accidents involving hazardous
substances. Good Management practice.
- OECD. Environment Monograph. Nº 30. The role of public authorities in preventing major
accidents.
- Programa de Nações Unidas para o Meio Ambiente http://www.unep.org
tem vários sites de interesse:
- Uma página dedicada ao tema de desastres: permite procurar documentos
que estão relacionados ao tema.
- APELL. Awareness and Preparedness for Emergencies at Local Level:
Process for responding to technological accidents:
- http://www.unepiet.org/apell/home.html
Este site oferece informação sobre as publicações,
estudos de casos e registros de acidentes selecionados no mundo
inteiro desde 1970.
- UNEP-Chemical (IRPTC) http://www.chem.unep.ch/default.htm
É um site dedicado a oferecer informação ligada
aos temas de interesse relacionados às substâncias químicas, como
os Contaminantes Orgânicos Persistentes (COPs / tradução das siglas
em inglês POPs) e do Consentimento Prévio Inormado (PIC).
- Outras organizações internacionais também geram muita informação que pode ser útil
para aqueles que tomam decisões e outros usuários da informação, como:
- As Agências Nacionais também produzem boa informação que pode ser utilizada na
prevenção, preparação e na resposta aos acidentes químicos. Como o caso da Agência
de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA): http://www.epa.gov/swecepp/
Este site está dedicado somente a emergências químicas e oferece aos usuários que
tomam decisões, muitas diretrizes que podem ser adaptadas à realidade nacional.
- Do mesmo modo, se consideramos a necessidade de realizar inventários de instalações
perigosas, de recursos, etc., a EPA tem posto à disposição dos usuários a base de
dados CAMEO (Computer-Aided Management of Emergency Operations): http://www.epa.gov/ceppo/cameo/index.htm
Este site oferece a possibilidade de copiar a base
de dados e softwares que têm informação específica de resposta para grande quantidade
de produtos e uma série de base de dados para a armazenagem de informação local sobre
instalações perigosas, inventários de substâncias químicas, inventário de recursos,
contatos. Além disso, permite fazer mapas de riscos e criar cenários.
Estas fichas foram produzidas pelo Programa Internacional de Segurança
de Substâncias Químicas da Organização Mundial da Saúde (IPCS/OMS) e oferecem
informação concreta sobre as substâncias químicas e as ações de emergência para
cada uma delas. A informação é ampliada com as propriedades físico e químicas das
substâncias, efeitos na saúde de acordo com as vias de entrada e, se são agudos ou
crônicos, os limites de exposição ocupacional e outros. A informação é oferecida
para cada substância e não em grupos.
5.2 Informação para os primeiros em chegar ao lugar da emergência (bombeiros,
policiais, pessoal paramédico e outros).
Estes precisam de informação rápida que lhes permita agir no
local do acidente com o menor risco possível, bem como de informação sobre as
propriedades físico e químicas e toxicológicas dos produtos envolvidos no acidente, os
efeitos clínicos agudos e a longo prazo por diferentes vias de exposição, métodos para
atendimento a um derramamento, uma vazamento, um incêndio, etc. primeiros auxílios para
as vítimas de um acidente químico, equipamento de proteção individual e temas
semelhantes.
As principais publicações que podem ser utilizadas são:
- Dangerous goods. Initial emergency response guide. 1992. CANUTEC. Canadá.
- Guía de respuestas de emergencias. Respuesta inicial a accidentes con materiales
peligrosos. Mutual de Seguridad. Chile. Chile.
- Guía de respuestas iniciales en caso de emergencias ocasionadas por materiales
peligrosos. 1992 SETIQ. México.
Na Internet se encontram as seguintes bases de dados:
Desenvolvida pelo Ministério de Transporte de
Canadá, o Departamento de Transporte dos Estados Unidos (DOT) e a Secretaria de
Comunicações e Transporte de México (SCT), para ser utilizado pelos bombeiros,
policiais e pessoal de serviço de emergências, que podem ser os primeiros em chegar à
cena do acidente durante o transporte de um material perigoso.
- MSDS. Material Safety Data Sheet.
http://www.ilpi.com/msds/index.html
Permite o acesso a vários sites onde há
informação sobre fichas técnicas de segurança de substâncias químicas.
- Chemical Hazard Response Information System (Sistema de Informação sobre a Resposta a
Produtos Perigosos - CHRIS)
http://152.121.2.2/hq/g-m/mor/Articles/CHRIS.htm
Além de oferecer informação sobre as propriedades físico-químicas
das substâncias, risco de incêndio, reatividade química, dados de transporte, etc., que
podem ser utilizados por diversos usuários, oferece um resumo da substância, as
características, ações de emergência e medidas de primeiros socorros.
A apresentação destas fontes facilita a procura rápida quando a
rapidez é um fator que reduz a perda de vidas humanas e os efeitos deletérios no
ambiente. As substâncias químicas podem ser encontradas pelo nome ou número de
identificação que remete a uma guía que agrupa os produtos segundo a sua classe
química.
5.3 Informação para o pessoal de saúde que oferece assistência hospitalar.
Este pessoal precisa de informação sobre:
- Descontaminação de pacientes.
- Tratamento médico (incluído o uso de antídotos) segundo as circunstâncias, gravidade
das vítimas, vias de exposição e disponibilidade de meios, durante a corrente de
assistência aos afetados (inclui assistência pré-hospitalar e hospitalar).
- Medidas de proteção que deve ter o pessoal de resgate responsável pela assistência
às vítimas para evitar contaminação.
Esta informação pode ser obtida por publicações, como:
- Managing Hazardous Materials Incidents. ATSDR. Volume II: Hospital Emergency
Departments. Volume III: Medical Management Guidelines for Acute Chemical Exposures.1991.
É um excelente material para o pessoal de saúde, tanto a nível de
planejadores como para as pessoas envolvidas na corrente de tratamento de vítimas de um
acidente químico. Apresenta informação sobre as características físico e químicas,
vias de exposição, usos, limites de exposição, propriedades físicas,
incompatibilidades, efeitos agudos e crônicos para a saúde, manejo de pacientes nas
diferentes áreas, desde o foco de contaminação até nas instituições com cuidados
intensivos e os princípios do tratamento da pessoa intoxicada, incluindo a
antidoto-terapia.
- Sullivan J.B. & Krieger G.R. Hazardous materials toxicology. Clinical Principles of
environmental health. Williams & Wilkins; 1992. ISBN 0-683-08025-3
Na Internet se encontra a seguinte base de dados:
É um banco de dados em texto completo, com informação sobre 4.300
produtos químicos. Inclui aspectos toxicológicos e procedimentos para o atendimento de
emergências, dados de identificação dos produtos, propriedades físico-químicas,
guías de emergência da DOT, classificação NFPA, procedimentos de assistência a
incêndios, explosões, incompatibilidades dos produtos, equipamento de proteção
individual, métodos de limpeza de resíduos, etc.
Em disco laser se encontra:
Este disco laser contém informação sobre substâncias químicas, com
dados organizados de maneira que o usuário possa procurar uma substância específica e
obter facilmente acesso à informação que sobre essa substância aparece em todas as
bases de dados contidas no disco, as quais são:
- IPCS Monografias de informação sobre tóxicos (PIMs).
- IPCS Fichas internacionais sobre Segurança Química.
- Base de dados CCOHS CHEMINFO que tem muita informação sobre substâncias químicas e
seus efeitos na saúde, forma de tratamento, etc.
- Organização Pan-Americana da Saúde
Tem desenvolvido vários instrumentos de informação que podem ser
utilizados nas etapas de prevenção, preparação e resposta a um acidente químico:
- A Divisão de Saúde e Ambiente (HEP) através do Centro Pan-Americano de Engenharia
Sanitária e Ciências do Ambiente (CEPIS) desenvolveu uma Biblioteca Virtual em Saúde e
Ambiente http://www.cepis.ops-oms.org com uma
seção dedicada à Toxicologia que tem muita informação útil na área de emergências
químicas.
6. Conclusão
A informação necessária para a prevenção, planejamento e
resposta a um acidente químico é ampla. Portanto é essencial identificar quem a
oferece, que recursos existem que sejam de fácil acesso e que vias de comunicação
garantirão o fluxo adequado da informação, quando podem surgir problemas pela
interrupção das linhas de comunicação ou por erros humanos produzidos pela pressão.
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